Deixa doer. Mesmo que tenhas medo, ama.
Apesar do medo, caminha.
Ele conspirará sempre com o teu ego na tentativa de te aprisionar.
Deixa que ele se apague, lentamente, rendido à tua luz.
Quando eu pensava que o medo se tinha ido embora, aborrecido com a minha indiferença, farto de tentar assustar-me, e cego pelo amor que insisto em partilhar.
Agora que eu pensava que não mais voltaria para zombar de mim, como uma criança matreira que mostra a língua e faz caras feias para irritar, dou por mim a senti-lo outra vez.
É tão grande, mas tão frágil ao mesmo tempo.
Vejo-o grande na sua insistência em voltar, frágil na sua intensidade e na sua frequência.
Existe ainda, e isso, mais do que o medo em si, assusta-me.
É o medo de ser abandonada, de não ser livre, de me apagar por causa disso.
Mas surge uma sabedoria que o afugenta. A vida obrigou-me a exames constantes, e fui superando com notas médias, todas as provas. Sempre que me doeu, sempre que me assolava a tristeza e me desfazia em lágrimas, sempre que a solidão surgia como a noite.
E agora, é o momento de aplicar o que aprendi.
Deixo o medo visitar-me, como um pai severo, que não deixa de ser pai por não gostarmos dele.
Obrigada a encará-lo, aplico toda a força que adquiri, no confronto com ele.
Não o afugento, mas deixo-o apagar-se aos poucos, para que ressurja cada vez mais enfraquecido na sua missão de me dominar, em complô com o meu ego.
Agora sou eu, com inteligência e perspicácia, que o testo, deixando que me traga todos os ressentimentos e mágoas ainda por resolver.
O medo e o ego, de mãos dadas, batalham com a minha essência. Insistem para que eu acredite que o problema está fora de mim.
Insistem para que eu sinta a mágoa e a dor, o ressentimento e os receios personificados em alguém que não eu.
E lentamente, vou-me dando conta da subtileza desta batalha.
Mantenho-me no domínio, sem negar a existência deste dueto quase invencível, e retorno a mim e ao que é meu.
Retorno às emoções, selvagens ainda, aos medos que cavalgam e aos ódios que me minam.
Vejo o caos, e fico alerta à oportunidade maravilhosa de me erguer finalmente, sem mais me preocupar com estes buracos negros que absorvem a verdadeira expressão de quem eu sou.
É preciso consciência e coragem, para retornar à cena do crime e reviver, mesmo que crescida, a experiencia maior do medo.
A recompensa não tardará, serei independente e finalmente livre, para permanecer onde quero, sem o medo de me perder de mim através dos outros.
Ser livre é uma conquista sem dúvida, e a batalha acontece em muitos pontos do caminho da vida.
Mantenho-me de espada em riste, feliz por ver o monstro e saber o que devo combater, mesmo que doa e me apeteça quase sempre fugir.
Mas desta vez, não fujo, permaneço na oportunidade, e agradeço.
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