segunda-feira, 30 de março de 2009

Despertar

Se ficas atento à letra da canção e sorris do centro do teu peito,
Se danças sem ritmos, a par com os movimentos da vida e agradeces com lágrimas, cada flor desabrochada nas carícias do sol.
Se te surpreendes com as tuas palavras, mornas e espontâneas de generosidade e te deixas abraçar sem medo.
Se te reconheces na estrela longínqua pulsando no centro do todo.
Se viajas voando com asas de esperança.
Se sussurras que te amas e já não gritas para que te ouçam.
Se cantas a tua verdade para iluminar, propagando-a em frequências subtis,

Então,
Então é porque despertaste.

E vives.
E sentes tudo.
As alegrias e as dores,
As tuas e as do mundo



Estende os braços e toca o céu, num abraço a ti mesmo.
Escuta os Anjos que aplaudem o teu regresso, descortinando o novo mundo que alcanças de olhos cerrados e que sentes em arrepios de amor.

Dá a mão a quem dorme ainda, belisca ao de leve para que vivam plenamente.
O teu sorriso é a direcção silenciosa que cada um que te cruza procura em segredo.

Aquieta e deixa agora, que perscrutem a sua própria Alma, para ouvirem a letra da canção, no tempo certo.


sexta-feira, 27 de março de 2009

As palavras

Sinto as palavras como se estivessem embrulhadas, presas em âmbar de múltiplas cores.
E cada cor revela um som da alma contida em mim.

A palete estende-se na infinitude das tonalidades inventadas entre o azul da imensidão imperscrutável dos mistérios do Universo, o rosa dos sentimentos tímidos mas genuínos, o violeta do poder transformador, o laranja da vitalidade ou mesmo o negro da confusão do inconsciente.

Busco incessantemente a fidelidade transparente que devolve ao mundo a melodia original.

Mas enquanto o sol deste mundo colorir as palavras da minha Alma,
recrio o mosaico multicolor de quem eu sou,
à imagem do branco de Tudo-o-Que-É.


quinta-feira, 26 de março de 2009

Amor colhido na saudade

Na tua ausência regressei para mim com a evidência da inevitabilidade do amor.
Era já impossível reter o fluxo.
Mas no desejo do retorno à tranquilidade ilusória de uma essência adormecida, calei a consciência.
A minha mente repetiu todos os dias, a cada hora, que não te amava. Convenceu-me que as saudades eram ressentimentos, e os ressentimentos eram carências.

E o vazio segredou-me que sentir é sobre viver, porque o acto de amar, pensar amor e ser amor, é o que de verdade somos, transcendendo a própria vida.
Nesse silêncio, vi o tamanho do mundo e a insignificância de tudo o resto.

E um dia, sem solicitações, despertei com nenhum desejo cravado.
Nesse dia o ego esqueceu-se de mim.
Foi então que me dei conta que poderias voltar, porque estava a nascer um amor claro, germinado da pureza de intenções.

O belo é amar, sem sujeito.
Com alma.
E se as almas se tecem numa só, amar-te é amar-me.
Amar-me através de ti ou de uma flor, ou de uma lua cheia e cor-de-rosa.
E esta constatação mantém-me desde então, junto à fonte da verdade, com a sensação de olhar-me desligada de emoções, bebendo luz.

Se a ausência doeu, não doeu em vão, por ensinar-me o amor impessoal.
É um amor contido em mim e que não se vai embora com ninguém.
Este amor é a preciosa bagagem para a viagem da vida.

terça-feira, 24 de março de 2009



Ser Verdade.

Sem PalaVrAs, apenas Sentir QUEM somos...
E CamiNHando, BrilhaMos a Pureza da Mensagem

para quem quiser VeR.






segunda-feira, 23 de março de 2009

A Astrologia e Eu

Os astros são como lampiões no caminho da vida que recortam a escuridão iluminando os nossos passos. Podemos escolher outros atalhos ou cortar mato. Mas chegaremos inevitavelmente, talvez em tempos diferentes, cansados ou radiantes, a um mesmo destino; a casa onde reside a nossa magnânime essência.


Num sonho recente, um homem cruza-se na rua comigo e fixa o olhar em mim. Continuo o meu caminho para casa.
Ao sair de novo à rua, encontro o mesmo homem, encostado à parede, como se estivesse à minha espera. Olha-me com intensidade e diz:
- Sabes que não é por acaso que nos encontramos?
Sem responder, começo a dar sentido a este encontro e demoro mais tempo a observá-lo. Tem ar de artista, vestido de uma forma diferente, mas elegante.
Leva-me a casa dele, e acabamos sentados no chão a ver o portefólio das criações dele. Desenhos coloridos, pinturas.


- Sabes que sonhei contigo antes de te conhecer?

Conheci o João na internet e sentimos afinidade nas poucas teclas que trocamos. É de Lisboa e sou convidada na casa dele. Estabeleceu-se uma empatia espontânea entre nós, como se nos conhecêssemos há anos.
Reconheço o homem do sonho porque estou a folhear o seu portefólio de listagens de Fractais. Motivos e padrões coloridos de uma beleza multidimensional.
Também gosta de fotografia e algumas delas parecem pintadas. Projectam claramente a sua habilidade artística.

- Sim? Conta-me.

Conto o sonho, e ele sorri. Acrescenta, contente por confirmar:

- Não és tu que dizes que não existem coincidências?

É verdade. Constato que as pessoas que me conhecem e que normalmente fazem questão em reforçar a sua posição de cépticos, acabam por se render à evidência da perfeição no caos… o que comummente designamos de coincidências.

- Não é por acaso que nos encontramos na Internet, nem é por acaso que estou aqui, nem é por acaso que sonhei contigo antes mesmo de te conhecer.
- Achas que isso tem algum significado especial?

Percebo a subtileza da pergunta. Sei que o João sente uma atracção por mim que pode atrapalhar a nossa relação de amizade. Consegue-se facilmente complicar uma amizade, quando se trata de um homem e de uma mulher.

- Tem sim. Confirma o facto de que tínhamos de nos cruzar neste momento das nossas vidas.

Aproveito para esclarecer que não me sinto disponível para uma relação amorosa.

- Nem eu quero que penses que estás em minha casa por causa disso. O que eventualmente possa sentir por ti, é e será sempre uma questão minha. Não te apoquentas, relaxa, e usufruamos da companhia deliciosa um do outro.

As conversas com João são sempre interessantes. Ele tem interesses astronómicos, que eu ligo com os meus interesses astrológicos. Fico encantada com o desafio que é expor as minhas crenças na Astrologia, principalmente quando o outro se disponibiliza a ouvir apesar do cepticismo. Um Astrólogo amigo disse uma vez que os seus melhores clientes são os cépticos. Compreendo-o perfeitamente.

- Mas Plutão não é um planeta, foi despromovido. A União Astronómica Internacional considera Plutão um planeta-anão, e foi-lhe retirada a classificação de planeta do sistema solar.
- Sim, e nem o sol nem a Lua são planetas, no entanto, astrologicamente falando, são-no. Neste contexto não interessa a classificação científica atribuída, apenas é considerado o arquétipo energético que eles contêm.
- A Astrologia não tem lógica. Como é possível através do signo saber o que vai acontecer?
- Essa Astrologia a que te referes é precisamente aquela que leva muita gente a desconsiderá-la e a desvalorizá-la. Abrimos uma revista e em meia dúzia de linhas pretendem definir o aquário, o carneiro, o virgem.
- Pois. Não é lógico.
- Mas a Astrologia é muito mais do que isso.
- Onde encaixam Plutão e os outros astros do sistema solar na tua Astrologia?

Ao colar o pronome “tua” percebo que ele já está a fazer a diferença. Isso aumenta a minha vontade de continuar a explicar.

- Primeiro, tens de te basear num conceito muito simples, aliás, uma das leis que fazem parte da filosofia do antigo Egipto, o Hermetismo, de Hermes Trismegistus, que diz assim: "O que está em cima é igual ao que está em baixo. E o que está em baixo é igual ao que está em cima".
-Referes-te à correspondência entre o microcosmos em que vivemos e o macrocosmos que nos engloba.
-Isso mesmo, a lei da correspondência.
- Continua - pede-me curioso.
- Vivemos tão absorvidos no nosso microcosmo, numa perspectiva limitada, que não nos apercebemos das correspondências que nos ligam ao macrocosmo que nos abarca.
- Resumindo. O que se passa no macrocosmo é verdadeiro também no microcosmo e vice-versa.
- Sim, e fazendo a devida correspondência, observar os céus pode ajudar a perceber o que se passa nas nossas vidas. Por isso observamos os céus; para aprender mais sobre nós próprios. Na menor partícula existe toda a informação do Universo.

Ele vai confirmando com o seu próprio conhecimento e a conversa promete alargar para além de Plutão.

- Por exemplo, a representação do átomo de hidrogénio corresponde à representação da órbita da lua à volta da terra. Sabias?
- Não sabia, mas não me admiram essas “coincidências”- represento as aspas com movimento dos dedos para cima e para baixo.
- Mas como aplicas esta lei à Astrologia?
- Se acreditarmos que nada é por acaso… aproveitando o exemplo do átomo de hidrogénio, a tua vida tem o seu esquema desenhado no céu.

Interrompe-me no papel de advogado do diabo:

- Não sei se acredito nessa coisa de que não existem coincidências…
- Não existe nada ao acaso neste Universo perfeito. Essa crença de que há coincidências persiste para compensar a incapacidade de perceber a origem dos acontecimentos e a ignorância sobre as leis que os provocam.
- Hum …
- É mais cómodo afirmar, “é por acaso”, em vez de assumir a responsabilidade total sobre tudo o que nos acontece.
- Mas eu não sou responsável pelas asneiras do Sócrates – brinca ele.
- Já lá voltamos, deixa-me continuar com o raciocínio.
- Ok.
- Outra das leis de Hermes, aliás, também considerado uma das divindades mais importantes do antigo Egipto, Toth, afirma que “Toda causa tem seu efeito, todo o efeito tem sua causa, existem muitos planos de causalidade mas nenhum escapa à Lei”.
- Não percebo onde queres chegar.
- Já vais perceber, espera.

O seu ar atento, olhando-me para não deixar escapar nenhum ponto nem virgula ao meu discurso, dá-me ânimo e prossigo:

- A Lei da Correspondência, juntamente com a Lei da Causa e Efeito, é a explicação para o funcionamento perfeito da Astrologia, bem como de todos os outros oráculos.

Serve-me o chá muito lentamente com receio de não conseguir ouvir-me enquanto o líquido quente e de fragrancia exótica é vertido nas chávenas.

- A partir do momento em que te assumes como o único responsável dos acontecimentos na tua vida, nunca te rendendo como vítima das circunstâncias, mesmo que não lhes conheças as causas de uma forma consciente e evidente… Se juntares a crença de que tudo está ligado entre si e que o que observamos nos astros se projecta nas nossas vidas, não terás dificuldade em perceber a lógica da Astrologia.
- Tudo ligado entre si - diz repetindo-me - Isso faz-me pensar nas últimas descobertas da Física quântica.

É evidente que começamos a divagar, mas acontece de uma forma tão natural e é tão empolgante que o deixo fluir na corrente de pensamentos:

- O físico quântico Indiano, Amit Goswami, expõe a ideia da integração de duas áreas aparentemente contrárias; a ciência e a espiritualidade.

Este seria outro assunto muito interessante a desenvolver e quase caio na tentação de continuar com a polémica e moderna visão científica de Amit. Mas retomo o controlo da conversa, e oriento-a novamente para o tema da Astrologia:

- Concluindo. Sendo a Astrologia uma espécie de pseudociência, sem dúvida que ela necessita de uma boa dose de racionalidade e outra boa dose de intuição. A nossa realidade baseia-se naquilo em que acreditamos. Dificilmente conseguiremos ver ou aplicar nas nossas vidas aquilo em que não acreditamos.

A partir daqui tento explicar, com imagens, como a astrologia no seu todo, nos pinta com as suas cores ao nascermos naquele dia, àquela hora e naquele lugar da terra.
Gosto da metáfora do funil de cores escolhidas numa outra dimensão, onde agendamos a missão que nos propusemos cumprir durante a nossa vida. Ao nascer, passamos o funil vibrante das cores escolhidas numa conjugação complexa de arquétipos de energias. Dou-lhe o meu exemplo:

- E assim nasci Aquário, signo da comunicação e do individualismo, da urgência em ser livre, com ascendente em Sagitário, uma lua, um mercúrio e uma Vénus em Capricórnio na primeira casa.

Explico-lhe o significado da Lua emotiva, do mercúrio mental e da Vénus dos valores e do relacionamento com o outro. Explico-lhe a tonalidade social, organizada e estruturada de Capricórnio. Sagitário marca a busca incessante pelos valores espirituais, o prazer das viagens, tanto interiores como exteriores. A casa um, a casa do eu, da personalidade. E concluo:

- A minha vida foi e continua a ser um palco para a experiencia de valores constantemente renovados. Sou aventureira e inovadora nessa busca e tenho esta necessidade profunda de rebuscar sentimentos, analisá-los e organiza-los. A prioridade na minha vida é sentir-me livre, mesmo com os outros e apesar das constantes batalhas emocionais travadas comigo mesma.
Sou bastante individualista e quase tudo se resume a mim, ao EU. Um egoísmo que não me afasta dos outros mas que me propulsiona em direcção à compreensão de quem eu sou, o que me leva inevitavelmente a aprender a empatia, o amor pela humanidade, e à partilha de conhecimentos.

- Tanta coisa?
- Muitas mais. Este é um pequeno rascunho do esboço inteiro da mandala do meu Mapa Astral.

Acabamos o chá em silêncio deixando as palavras assentarem. Parece que as sinto ainda no ar planando como penas.
A astrologia pode ser um tema integrador de muitos interesses profundos e menos perceptíveis.
Fico com a sensação de que a conversa não acabou, mas a pausa é necessária. Há muitos conceitos novos a tentarem invadir o esquema mental com que nos identificamos.

- Tens de me fazer o Mapa Astral. Parece-me que tenho uma viagem para fazer, quero orientações.

Sorrio. Ele percebeu que a Astrologia pretende orientar quem busca orientação. Que ela propõe demarcar os vários caminhos possíveis que levam ao encontro com nós próprios.
Este oráculo consegue definir os potenciais dinamizadores ou os bloqueios e dificuldades inibidores, sem vetar a lei do livre-arbítrio. A Astrologia prepara o viajante no caminho da vida, para que ele leve consigo tudo o que precisa, preparando-o para uma viagem mais consciente e consequentemente mais gratificante.

- Mais chá?


sexta-feira, 20 de março de 2009

Um ponto do anel da Terra

Não há certezas que me façam feliz, não há braços que me carregam, não há formas que me satisfaçam, não há nada que me faça SER.
Há sim um Sol, que me ilumina, para que eu consiga rever-me no meio do escuro, na velocidade de um tempo que não espera.
Aqueço-me neste Sol que me inclui, apenas sendo.

Venham as noites, nenhuma apagará este clarão de consciência conquistado.
Venham as dores, nenhuma afogará a esperança tecida dos fios de todas as experiências.
Venham os outros, ninguém me acorrentará para me fazer escrava da sua apreciação.
Sou completa, num ponto pequeno de um círculo inteiro, anel da Terra.
Dou de mim por ter a mais e não poder conter-me.
A luz emana do sorriso que trago, provocando o brilho escondido de cada um que se cruza na minha vida.
E eu cresço nos olhares iluminados de cada Ser.
Aprendo a SER para que me vejam SER e para que também sejam sem nada fazer.



A Fórmula da Transformação

O Homem é como uma variável, numa fórmula matemática simplificada, que resume nela, os dados de todo o Universo e os seus mistérios.
Como variável, é experimentada num laboratório; Toma diversos valores, é multiplicada por constantes reais e verificada na proporcionalidade com o Amor.
Transformamo-nos enquanto transformamos a equação que testa todas as possibilidades que o Alquimista Supremo da Vida imaginou para nós.
E no laboratório do cosmos, uma pequena realidade desabrocha a partir do Homem, inserida numa fórmula matemática para dar um resultado maior que servirá todo um Universo.
É a fórmula da transformação, igual para todos na pessoalidade dos resultados renováveis.
Transformamo-nos com as nossas escolhas numa solução maior que expõe o Amor.
Se incluirmos o factor medo que nos divide na essência, acontece um erro e logo somos avisados.
Se potenciarmos com bênçãos, sentimos que a Luz se propaga proporcionalmente à disponibilidade no Amor.
É a fórmula da transformação, aquela que retorna a radiância de Luz que emitimos.
A vida é o laboratório e Deus o nosso cientista genial.
Quando o Homem consegue comprovar através da equação o sentido da vida, Ele festeja tranquilamente, aplaudindo a pequena variável e a esperança nela depositada.



terça-feira, 3 de março de 2009

Diálogos - Ainda sobre os medos



Não é a primeira vez que me chama a atenção para o facto de que escolho sempre o momento das refeições para iniciar conversas complexas e profundas.
Não sei bem porque escolho esses momentos, mas sei que nunca o que eu digo é menos profundo ou complexo.
Por acaso, ou não será por acaso, o momento das refeições, o bom vinho que as acompanha, propicia este estado de espírito que me impulsiona a abrir o fecho éclair da pele que veste a minha alma.

- Mas não percebes que os nossos medos batalham entre si, arranham e puxam cabelos, mais para se alimentarem mutuamente do que para ganharem uma posição?
- Que dizes? De que falas tu?
- Refiro-me aos nossos medos. Eu tenho consciência dos meus, de como estão sempre a tentar, numa luta subtil de poder, dominar a relação para que o meu ego se sinta seguro, em posição de vantagem em relação a ti.
- Estás a querer dizer que me tentas manipular?

Num tom jocoso, continua:

- Eu sabia …
- Estou a querer dizer meu querido que tentamos mutuamente manipularmo-nos, conseguindo esconder o que verdadeiramente nos manipula; a nossa base inconsciente, os receios profundos de nos perdermos em dores e emoções descontroladas.
- A que te referes? Eu não sinto nenhum descontrolo.
- Talvez precises de sentir, talvez tenhas de deixar os cavalos selvagens à solta, deixá-los a galope sem os tentares agarrar, sem medo de seres pisado mesmo que o sejas.
- Mas que cavalgada de ideias! Não achas que estás a exagerar? Não tenho a certeza de te conseguir entender.

Não sei se algum dia as palavras que me definem serão realmente ouvidas da mesma forma que eu me ouço, com a pureza com que são sentidas. Mas acho que desisti em persistir nas explicações.

- Apenas sinto vontade de partilhar contigo as minhas mais recentes descobertas.
- Mas afinal, que descobertas são essas querida?
- Adoro quando me tratas por querida. Como se me quisesses reafirmar o teu amor: “Não te compreendo neste momento, mas ouço-te porque te amo”. E sabes que isso quase me basta?

Revela o sorriso que lhe provoquei.

- Fazes-me sorrir, mas continuo sem entender.
- As descobertas, meu amor, a que me refiro, são descobertas muito pessoais mas que eu acredito possam servir a outros. Tal como os navegadores portugueses, que descobriram novos mundos, marcando caminhos até então desconhecidos. Eu descobri um novo mundo também.

Ironiza docemente piscando-me o olho:

- Querem lá ver! Tu, uma descobridora de novos mundos?
- Um mundo vivido a partir de uma nova forma de ser.
- E que forma de ser é essa que renova o mundo?
- Uma forma que integra tudo o que já fui, tudo o que quis ser e não fui, tudo o que sou e não quero ser, tudo o que não sou mas serei, em suma, tudo o que sou neste momento.
- Confundes-me … deixa ver; tudo o que foste, o que és e o que serás? Mas o que não és serve para alguma coisa?
- Serve sim, serve para eu perceber se quero ser ou não.
- Hum …
- E entre tudo aquilo que sou, sou também aquilo que não me agrada ser, e é essa parte de mim que despoleta os medos que tentam dominar o que sou em essência. Sabes, mesmo que não se goste é sempre muito mais confortável ser-se aquilo que se conhece e com que aprendemos a lidar mecanicamente, do que aquilo que sentimos ser e ainda não somos e receamos ser, por provocar batalhas transformando-nos. Mas no final, é isso que nos liberta.

Estendo a mão por cima da mesa. A dele vem ao encontro da minha e entrelaçam. O silêncio surge e consegue amenizar a erupção de palavras que expeli como um vulcão que já não aguenta mais conter o magma em movimento.
Ele ama porque ama e isso conforta-me. Porque não me satisfaço com a natureza simples do amor? Porque insisto em explicar o meu mundo novo?
Arrisco-me a queimar com a lava efervescente todos os vestígios do que me rodeia.
E apenas porque insisto em ser eu mesma... e porque acredito que o fogo purifica.

- Mas assim estarás sempre em batalhas – Conclui esboçando um meio-sorriso.
- E de espada em riste, pronta para combater os monstros, ganhando terreno para alargar mais ainda o espaço da expressão do meu verdadeiro eu.
- Muita filosofia, muita filosofia.

Sorrio. Reconheço que não é fácil ouvir-me. Valorizo o esforço. A vontade de me conhecer cada vez mais é maior do que o aborrecimento que possa provocar a minha dissertação espontânea.

- Mas voltando aos medos.
- Sim querida, voltando ao princípio.
- O meu medo provoca o teu medo que engrandece o meu e entramos num ciclo vicioso difícil de reconhecer se não estivermos atentos.
- Eu não sinto medo, pelo menos eu acho que não sinto medo. Mas em contra partida vejo os teus. Essa tua necessidade constante de me fazeres entender quem és, o que pensas e principalmente o que sentes.
- Tens razão e foste perspicaz. Tenho esse medo de não ser compreendida. Mas tu também tens medos. Por exemplo, sabes porque insistes em esclarecer que precisamos de espaço, de tempo para nós? Porque insistes em referir que temos de evitar a rotina? Para mim é óbvio. Tens medo de compromissos, tens medo de perceberes o quanto amas porque tens medo de te perderes na relação.

Aproveito a deixa para rever o tema que discutimos ontem, depois de amarmos os corpos. Conjuguei o verbo amar, ainda com a pele quente, e nesta sensibilidade polida no acto, percebi o medo quando não ouvi o eco.
Ao tocar no assunto, ele voltou a falar na importância de não cairmos na rotina que nos separou há 6 meses atrás. E eu insisti. Que rotina tem a nossa relação? Se não temos dois fins-de-semana iguais, se mudamos de paisagens nas nossas viagens idílicas, se nem sequer moramos juntos? Se temos mundos diferentes, amigos diferentes? Se eu abomino rotina?
Medo, medo de amar. Esse foi o meu diagnóstico. Conheço demasiado bem este medo.

- Perder-me? Mas eu sei exactamente onde estou na relação! - Insiste já com sinais de irritação.
- Então diz-me. Onde te encontras tu na relação?

Depois de alguns segundos em que fecha os olhos e suspira profundamente, volta a olhar para mim, mantendo uma distância segura que se revela no tom de voz, mais frio, mais decidido.

- Maria, estou na relação contigo mas talvez não sinta as mesmas coisas que tu. Somos dois a tentar encaixar vivencias. Sei que não é fácil, sinto que caminho sem saber bem para onde mas sei que estou no caminho que escolhi.
- Então, se não sabes para onde vais, pelo menos sabes porque escolheste este caminho e não outro?

Não pretendo provocar respostas concretas, espero apenas conseguir marcar um mapa para ter a certeza de que caminhamos lado a lado. Olho para ele franzindo ligeiramente o sobrolho, preocupada com o resultado desta conversa. Ela chegou a um ponto em que ele se permite ponderar, olhar para dentro e falar o que sente. Este era um dos objectivos, mesmo que não tenha sido inicialmente definido.

- Não sei querida. Tenho de dar a mão à palmatória. Tal como tu, limito-me a seguir o meu coração. Sei que é aqui e agora que quero estar.

Comove-me a humildade de quem ama, a sinceridade que expõe a alma. Nestes momentos vejo o divino, esqueço o homem e apaixono-me outra vez.

- Querido, eu não tenho certezas, eu não me sinto completamente segura e talvez entre em pânico de vez em quando. Mas alguma coisa me faz ficar também. E não é a necessidade de ti, mas o amor que sinto por ti, e por mim, claro.

Permito-me uma pausa para respirar mais profundamente. Procuro mentalmente as palavras que soltem os sentimentos que quero exprimir:

- Ao reconhecer os meus monstros que aprendi a tomar como meus e apenas meus, encurralo-os num espaço interior e inicio a luta silenciosa para, primeiro enfraquecê-los com a minha consciência e depois deixa-los ir, com compaixão.

Mesmo sabendo que ele poderá não partilhar as minhas crenças em vidas paralelas e vidas passadas, acrescento:

- Foram demasiadas vidas com eles como companheiros, a fazerem parte de mim, a tolherem a expressão maior do amor. Integro-os agora no todo que eu sou, e vivo com eles sem os negar mas sem os deixar dominar.

O vinho branco maduro que escolhemos aquece sobre a mesa. A comida arrefece e já não tem sabor.
Tenho de concordar com ele, não é o cenário ideal para este tipo de conversas.
Mas a alma precisa também de alimento e a minha andava esfomeada depois das batalhas anónimas que perpetrou com os tais medos.
Calmos, serenos e cúmplices, erguemos os copos e brindamos sem desligar o olhar um do outro ainda de mãos entrelaçadas sobre a mesa.

- A nós, à nossa coragem e à aventura que nos espera!


segunda-feira, 2 de março de 2009

O retorno do medo

Deixa doer. Mesmo que tenhas medo, ama.
Apesar do medo, caminha.
Ele conspirará sempre com o teu ego na tentativa de te aprisionar.
Deixa que ele se apague, lentamente, rendido à tua luz.

Quando eu pensava que o medo se tinha ido embora, aborrecido com a minha indiferença, farto de tentar assustar-me, e cego pelo amor que insisto em partilhar.
Agora que eu pensava que não mais voltaria para zombar de mim, como uma criança matreira que mostra a língua e faz caras feias para irritar, dou por mim a senti-lo outra vez.
É tão grande, mas tão frágil ao mesmo tempo.
Vejo-o grande na sua insistência em voltar, frágil na sua intensidade e na sua frequência.
Existe ainda, e isso, mais do que o medo em si, assusta-me.
É o medo de ser abandonada, de não ser livre, de me apagar por causa disso.
Mas surge uma sabedoria que o afugenta. A vida obrigou-me a exames constantes, e fui superando com notas médias, todas as provas. Sempre que me doeu, sempre que me assolava a tristeza e me desfazia em lágrimas, sempre que a solidão surgia como a noite.
E agora, é o momento de aplicar o que aprendi.
Deixo o medo visitar-me, como um pai severo, que não deixa de ser pai por não gostarmos dele.
Obrigada a encará-lo, aplico toda a força que adquiri, no confronto com ele.
Não o afugento, mas deixo-o apagar-se aos poucos, para que ressurja cada vez mais enfraquecido na sua missão de me dominar, em complô com o meu ego.
Agora sou eu, com inteligência e perspicácia, que o testo, deixando que me traga todos os ressentimentos e mágoas ainda por resolver.
O medo e o ego, de mãos dadas, batalham com a minha essência. Insistem para que eu acredite que o problema está fora de mim.
Insistem para que eu sinta a mágoa e a dor, o ressentimento e os receios personificados em alguém que não eu.
E lentamente, vou-me dando conta da subtileza desta batalha.
Mantenho-me no domínio, sem negar a existência deste dueto quase invencível, e retorno a mim e ao que é meu.
Retorno às emoções, selvagens ainda, aos medos que cavalgam e aos ódios que me minam.
Vejo o caos, e fico alerta à oportunidade maravilhosa de me erguer finalmente, sem mais me preocupar com estes buracos negros que absorvem a verdadeira expressão de quem eu sou.
É preciso consciência e coragem, para retornar à cena do crime e reviver, mesmo que crescida, a experiencia maior do medo.
A recompensa não tardará, serei independente e finalmente livre, para permanecer onde quero, sem o medo de me perder de mim através dos outros.
Ser livre é uma conquista sem dúvida, e a batalha acontece em muitos pontos do caminho da vida.
Mantenho-me de espada em riste, feliz por ver o monstro e saber o que devo combater, mesmo que doa e me apeteça quase sempre fugir.
Mas desta vez, não fujo, permaneço na oportunidade, e agradeço.


Prefácio

De mãos dadas, com o amor na minha vida, percorro o caminho que escolhi, e que tinha esquecido.
Neste tranquilo fluir da vida, nesta felicidade que não tem tamanho, por ser tão pura e leve como o ar, não temo mais as mudanças.
Durante muito tempo pensei que precisaria de batalhar arduamente para conseguir a pequena parte daquilo que desejava.
Bem no princípio da minha vida, ao conseguir as coisas que desejava, perdia-lhes o interesse, e procurava outras que pudessem compensar essa sensação infinita de vazio.
Aos poucos fui percebendo que, nada disso me preenche, porque tudo o que desejamos são apenas formas físicas daquilo que já contemos, num estado líquido de sentimentos ainda muito enterrados e por descobrir.
Os tesouros que encerro são incontáveis, e não há um número de vidas suficientes para poder contá-los e vivencia-los. Mas será isso o mais importante? Ou será que me basta guarda-los, sabendo que existem, e que fazem parte de mim, confiando que se disponibilizarão sempre que assim o desejar?
Esta descoberta do potencial criativo da vida é a verdadeira alquimia, aquela que nos dá a sensação forte e firme de felicidade.
Mesmo feliz, sinto tristeza, mas é uma tristeza sem garras, que já não me prende. Talvez seja o arquétipo da minha energia, talvez esse arquétipo seja a razão de toda essa força impulsionadora na minha vida, que me empurra em direcção à busca de quem eu sou.
Que bom é viver.
Olho para trás e revejo os meus dramas, todos têm a etiqueta do maior e mais importante. No entanto, como faço a todas as etiquetas, corto-as porque já li as instruções, já me orientaram e já não necessito delas.
Este blogue é resultado do meu processo de vida, espero que com ele os leitores se identifiquem, e possam minimizar a sensação de solidão que a consciencialização inevitavelmente traz.
Espero que este blogue espelha a esperança de que tudo é possível, mesmo o que ainda nem sequer nos atrevemos a imaginar.
Este blogue contém quem eu sou, numa vivencia muito interior e muito pessoal. São os factos da vida contados a partir da minha percepção do que é a realidade, com a crença de que somos o produto dos nossos pensamentos e das nossas emoções.
Abro o meu coração, deixo entrar cada um de vocês que me lêem, saudando-vos com carinho.