quinta-feira, 29 de outubro de 2009

A liberdade de ficar triste



- Que tens Maria?
- Estou triste.
- Porquê? Que fiz eu para te entristecer?
- Nada meu querido, não és tu. Sou eu no encontro com uma Maria ferida. Deixa-te ser quem és, porque ajudas-me a curá-la, a abraça-la.
- Mas não te quero triste, fico triste também.
- Deixa-me ficar triste. Se quiseres, fica triste comigo, mas deixa que surja este sentimento. É a única forma de me curar.
- Que posso fazer por ti?
- Nada… aliás, tudo… abraça-me, sem a necessidade de me entenderes e ama-me, sem a necessidade de me satisfazer.


Ele abraçou-me e o meu corpo apertado permitiu-se chorar dores guardadas. Essas dores cristalizadas no meu coração são pedras que o tornam denso. Com as lágrimas, rolam também restos do passado que a minha alma rejeita amorosamente, como se de um corpo estranho se tratasse.

- Nunca deixes de ser tu mesmo para me tornares alegre. Sou livre ao ponto de me deixar ficar triste até transformar todos os sentimentos que não necessito mais.
- Mesmo triste, o teu rosto ilumina.
- Isso é porque a minha tristeza é de cura e não de desespero.
- Ficar triste é então uma arte?
- É sim… uma arte que aligeira o coração porque é espontânea e bela.

Não preciso de nada, nem sequer desejo acabar com a tristeza. Sei que há um tempo para doer, esse é o tempo de cuidar de mim. Explico-lhe que só precisa de respeitar este momento, e esperar que eu saia vitoriosa, consciente e maior.

- Eu espero, e sabes porquê?

Faz uma pausa enquanto me limpa as lágrimas com um beijo

- Porque te amo.

O amor é a fragrância que harmoniza todo o processo, e eu deixo-me amar pela vida, por mim… por ele.


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